quinta-feira, 29 de setembro de 2011

• Nothing... but freedom

É preciso ter muito cuidado com o que se deseja... porque os nossos desejos mais profundos podem vir a tornar-se realidade. Quando menos esperamos. E talvez quando tenhamos deixado de desejá-los...

É o problema dos desejos. Têm uma exequibilidade que não é quase nunca num prazo imediato ou mesmo curto.

Eu insensatamente desejei a minha liberdade.

Em nome de me sentir livre, cometi erros. Graves. Feios. Imorais. Canalhas. Inconfessáveis. E quiçá quase imperdoáveis. E por isso fui deixado. E assim estou agora livre. Tal como cheguei a desejar-me.

Tenho procurado gerir a minha liberdade imposta. Que já não era tão desejada nestes últimos tempos, afinal.

Hoje, por exemplo. Tive a sensação de ser o homem mais livre desta nação á beira-mar plantada. Quiçá de todo o mundo ocidental e dito civilizado. Onde momentos de liberdade absoluta não nos são assim em tantas ocasiões propícios.

Estou em gozo de férias. As primeiras depois de muitos anos que gozo só. Sem mudar de ares. Sem aqueles luxos que o dinheiro pode pagar. Simples. Apenas e só dolce fare niente.

Hoje cumpri uma mini-travessia do deserto. Simbólica. Em solitário. Marchei como um soldado de infantaria através de terras arenosas. Umas milhas ouvindo o mar que se sentia bem perto mas camuflado atrás dum pinhal. Outras bem ao lado dele e do espectáculo duma sua bravura selvagem mas contida pela brandura deste estio a expirar.

À medida que caminhava, pensava como o pobre do comum dos mortais, cheio de compromissos profissionais, que o obrigam a ficar fechado dentro de um edifício, me poderia invejar. A mim, que durante umas maravilhosas horas estive sem amarras a me prenderem a nada ou a ninguém, a usufruir dum explêndido dia de sol, céu limpo e natureza belíssima, ali, tudo só p'ra mim.

A meta desta minha marcha era o retorno à civilização. Num recanto de praia que serve a um resort turístico que se apresentou aos meus olhos - que o não viam p'rái há uma meia dúzia de anos e onde então fui muito feliz, em boa companhia - magnífico. 

Omito propositadamente onde é esse deserto e esse resort. Mas concedo que não é muito longe da nossa capital, em direcção ao sul. E nem poderia ser. Porque sou livre mas não posso ir longe.

Já antes deste dia ando a desejar deixar de ser livre. E como agora já fiquei de liberdade saciadinho.... queria ardentemente voltar a ser um homem comprometido. E sobretudo amado.

Não sou homem de fé. Mas roguei áquele anjo que se demitiu de me amar, quando nesse altar do mundo que é Fátima se encontrava, para pedir à santa que olhasse por mim e me enviasse outro anjo igual. O pedido foi assim feito, afiançou-me...

Pelo meu lado, busco manter uma moral elevada, com as seguintes estrofes que sempre pairam no meu espírito, nestas últimas luas:

Sou talvez a visão que alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Florbela Espanca, poetisa de Vila Viçosa

sábado, 17 de setembro de 2011

• Nothing

Mesmo no final do romance "Os Maias", de Eça de Queirós, João da Ega, alter-ego do autor, diz esta frase para Carlos Eduardo da Maia, do qual era sua sombra inseparável:
"Falhámos a vida, menino!..."
Eu bem quis, depois da leitura desta obra que me marcou, sempre procurar evitar ter de dizer o mesmo para mim próprio. Mas não o consegui. E admito-o, finalmente. Falhei a minha vida.

Dei cabo dela e arrastei comigo para uma vida sem rumo outro ser que me fez companhia de jornada. Desde pouco depois do 11 de Setembro de 2001... até ao dia seguinte ao meu último aniversário. Que é a 29 de Outubro. Quando cumpri meio século de existência neste mundo dos mortais.
Foi mais ou menos há um ano atrás, também neste mês aziago de Setembro, que descobri que esse ser tinha começado a sonhar o seu futuro sem mim. E já o vinha fazendo desde há dois a três anos a essa parte...
O céu então caiu-me em cima da cabeça. E o castelo de cartas que a minha vida era - e continua a ser - desmoronou-se, que nem as Twin Towers do World Trade Center de New York... E tal como o mundo mudou nesse Setembro de 2001, eu também mudei nesse verão índio de 2010. Prenúncio do outono da minha vida.
Desde há um ano, no término das minhas últimas e felizes férias, tenho este fado que mais se assemelha a um fardo. Que hei-de carregar até ao fim dos meus dias. Que me faz andar em permanência a questionar-me...
Como foi possível eu ter sido tão canalha com um anjo que os deuses me ofertaram?
Como foi possível eu ter feito esse anjo caridoso virar um aparente monstro p'ra mim, mesmo não sabendo da canalhice do meu lado?
Como foi possível eu ter sido tão estupido e cego?
Como foi possível eu não ter querido ler os sinais que estiveram sempre diante dos meus olhos?
Como é possível eu ter raiva apenas de mim?
Como é possível eu continuar a gostar desse anjo?
Como é possível também, que esse anjo não me seja hostil?
Como é possível, apesar de tudo, não poder haver mais esperança?
Como é possível que palavras algumas não possam já ser trocadas entre nós, sem que estas nos magoem, mesmo que de afecto e carinho se tratem?
Porque tenho eu de arrancar o coração fora do peito?
A esta última questão, acho que vou sabendo ter resposta. É para eu não enlouquecer de dor... já que de arrependimento, nada há a fazer.
E de agora em diante viver o vazio. O nada.
A nossa interacção nesta terra, digo a minha com esse anjo, começou e terminou da mesma maneira: por sms...
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Para escutar a banda sonora original (ost) deste post, clicar aqui. Esta melodia não me saiu da mente esta semana toda que findou...

domingo, 4 de setembro de 2011

• Erotica, my personal version

Ora então, segundo reza a lenda, os humanos teriam originalmente quatro braços, quatro pernas e uma cabeça com dois rostos...

Isso teria preocupado Zeus, o deus supremo da antiguidade grega. Que receou o poder que os humanos assim deteriam. E fez-nos então um downsizing para o formato que temos agora. E com isso nos terá condenado a eternamente nos vermos forçados a andar em demanda da nossa outra metade... Boa!...

Este facto pode bem explicar porque nós, humanos, gostamos tanto de estar abraçados. Daquilo a que a uma caríssima alma amiga minha vi um dia designar por "carinho silencioso". Num lãnguido abraço demorado, um casal de humanos mortais numa rede deitado, numa tarde de estio ociosa, para compor um cenário imaginário, pode vivenciar a ilusão da reunificação das duas metades da laranja.

Este fait-divers da mitologia grega só por nos recordar isto já é delicioso! Mas não vou ficar satisfeito em quedar-me por aqui, que esta historinha é um mote demasiado rico para ser desperdiçado...

E agora, a partir desta base lendária, do acervo da nossa consolidada cultura universal, vou divagar. Deixar dar livre curso a esta minha inquieta imaginação. É que, para além desta forma de nos explicar porque temos esta pulsão de querer dar amor e carinho a um outro ser em que conseguimos antever uma metade separada de nós no passado, posso tentar encontrar algo mais, que também nos explique o que é o... huuummm!... sexo. Pronto, já disse a palavra que tornará doravante este post interdito a menores de idade.

A perfeição absoluta nunca existiu, nem mesmo no Olimpo. Se até o grande Zeus teve de corrigir uma vez a mão, neste particular da engenharia biológica do homem, então podemos admitir que houve mais detalhes que lhe escaparam nesta sua criativa obra.

Vamos presumir que a clivagem do homem original - com quatro braços, etc., - não foi 100% equitativa, de forma a produzir a partir de um só dois seres iguailinhos.

Pois é! Admitamos lá que quando se deu a tal cissão, houve um pedaço de massa corporal que se quedou agarrado a mais de um lado, como uma parte estranha a este; e a menos do outro, claro, onde restou uma cavidade cujo vazio clama por ser preenchido.

Para além ainda do plano físico, características psíquicas que conviviam no homem original numa perfeita harmonia yin-yang foram de igual modo mal repartidas. 

Dois exemplos úteis que se pode dar de algumas dessas parcelas do carácter são a sensibilidade e a rusticidade. Opostas entre si, que ficaram em maior grau, respectivamente a primeira naquele ser dividido a que se passou a designar por MULHER e a segunda no HOMEM, tout court este último assim chamado, por facilitismo de linguagem, já que o original ser também já era assim.

Aqui chegados, vamos agora concretizar um pouco mais: aquela dita massa corporal que ficou a crédito do lado masculino, para dar os nomes aos bois, é o que os actuais experts em anatomia baptizaram por PÉNIS. E o déficit material da outra metade, a feminina, convencionaram ser a VAGINA.

Atrás se disse, lembre-se, que a sensibilidade pareceu ter ficado quase toda dum lado só. No caso, a metade feminina. 

Isto é, em boa verdade, fácilmente demonstrável. Qualquer pessoa tem entranhada empiricamente a impressão que zonas sensíveis, ditas por vezes como erógenas, no corpo da Mulher estão espalhadas por todo e cada centímetro quadrado de pele. Já no Homem essas mesmas zonas erógenas estão todas concentradas aonde?... Pois! Exactamente aí onde está a pensar, caro leitor.

Nada disto é afinal surpreendente. E porquê?... Ora, justamente porque aquele pedaço que o pénis é era suposto não ter sido - nabice! - atabalhoadamente rasgado da metade corpo da Mulher. Isto é, se tudo corresse sempre bem nas bricolages dos trapalhões deuses gregos...

Mas bem, graças a Deus* que aconteceu deste modo. Há males que vêm por bem. Porque assim, para além de estarmos condenados ad eternum a procurar a nossa cara metade, quando a encontramos actua então em nós um instinto enraizado que nos impele, mais tarde ou mais cedo, a ter sexo com ela.

Já tantas vezes pensei com os meus botões da braguilha... que estranha actividade é esta do sexo! Se eu fosse um extraterrestre, não perceberia nem como esta terá surgido um dia, inventada a partir do quê, nem porque esta também parece ser tão prazeirosa para o comum dos mortais. E até de alguns dos deuses...

À luz do que aqui filosofei e romanciei, finalmente hoje entendo o que é afinal o sexo. Não é mais do que dois humanos a dedicarem-se a anular a obra de Zeus. Para dois voltarem a ser um só. E para ambiciosamente recuperar o alegado poder perdido. Daí o frenesim e o gozo com que muitos praticam o sexo.

Caberá aqui quiçá relatar agora um episódio engraçado que ocorreu com um amigo meu, de sua graça Carlinho. 

Andave o pobre Carlinho de candeias às avessas com a sua Jaciara, já por um longo período, quando a ocasião se proporcionou que os dois resolvessem pôr a conversa em dia e em pratos limpos. 

E por de pratos se tratar, Carlinho e Jaciara, no meio de acesa discussão, deram aquela abracinho bem hardcore, com ela sentada justo em cima da banca de pedra da pia da cozinha da casa dela. Consta que suaram bastante ambos...

Acto contínuo, Carlinho uma hora depois estava a passear-se pelas ruas da sua cidade com aquele sorrisinho besta que todos conhecemos a bailar-lhe no rosto. E para o justificar perante os amigos seus que o viram e sabiam de sua desventura e tentativa de reconciliação com Jaciara, exclamou esta frase sublime:

"Rapaiz, entrou até o pensamento!!!..." **

Fusão de dois seres que se amam mais perfeita que esta não pode haver, a meu ver!...

Maravilhosa, a nossa natureza humana. Que dotou o Homem dum lindo apêndice que lhe não pertence de pleno direito e do qual é tão-só fiel depositário. E que quando este encontra a legítima dona*** desse pedaço antes dela, o pénis se metamorfiza em espada de carne, então abundantemente irrigado de sangue. Bombado por um coração mais irrequieto, porque em presença finalmente da outra metade de si, prestes a reunificarem-se as duas.

É tão sublime também antes dos dois corpos se colarem e encaixarem, ou seja, antes do chamado coito, a veneração que ambas as partes envolvidas na refrega fazem primeiro do pedaço do outro corpo a ser-lhes entregue depois. Fase que se designa como os preliminares. Onde para além dessa adoração de zonas de lazer restritas, os nossos cinco sentidos se exercitam em manobras militares invadindo o território alheio todo, ávidos duma conquista rápida como as dos desenfreados cavaleiros hunos comandados por esse bárbaro do Átila.

Ao que se segue o tal de coito, ou como uns dizem, a penetração. Onde para se ser venturoso, não só o pénis deve adentrar como também a vagina abocanhar. E o pensamento dos dois combatentes ser uno mas ao mesmo tempo incontrolável, balanceando de lá p'ra cá e vice-versa, os dois conjuntos de neurónios em ebulição ligados em rede por essas ficha e tomada que o pénis e a vagina constituem.

E depois da tempestade, a calmaria.  Algo mais elevado do que o sexo. Descrito aqui.

Obrigadinha, Zeus. Bem hajas pelo que nos fizeste. És um bacano. Tu também, segundo me consta, gostas pouco, gostas...
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* Qual, perguntar-me-ão?... O da vossa livre escolha. Ponham a vossa humana imaginação prodigiosa p'ra trabalhar também, seus calões!...

** Não cuidem porém que Carlinho é de se vangloriar da sua masculinidade, não. É até um doce de mocinho. E tinha por circunstãncia atenuante um estado depressivo em que o anterior desamor de sua Jaciara o tinha mergulhado.

*** Em italiano, o substantivo Mulher diz-se, nem por acaso, Donna. Mais um facto para corroborar as minhas tontas teorias.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

• Blog Day 2011

Ontem foi o Blog Day 2011. Parece que é por causa de os números da data de ontem - 3108 - lembrarem a palavra "blog"... huuum!.. Só soube isto perto da meia-noite. E assim não pude ainda ontem, na data certa, fazer um post sobre isto.

Mas vejo que esta data foi muito falada no ano passado mas agora em 2011, a iniciativa murchou muito... a avaliar pelos ecos que se podem consultar na net.

Bom, mas afinal, de acordo com o espírito da coisa, aqui vai o meu Top Twelve dos blogs que sigo: